Pode rezar, mas me deixa vivo!

27 Jun

No último post falei sobre os costumes religiosos durante as viagens de ônibus pela Venezuela.

Mas a verdade é que não é sempre assim. Não rola música gospel em todos os trajetos. Depende da região do país, da empresa de ônibus, dos motoristas…

Aliás, o mais normal mesmo é ouvir Salsa e derivados, sempre tocados no último volume, como se a viagem fosse uma grande festa caribenha.

No final das contas, ninguém dorme, ninguém relaxa, ninguém conversa. E ainda termina com uma puta dor de cabeça…

Isso, mais o ar condicionado ligado no máximo, com temperaturas polares, fazem com que viajar de ônibus pela Venezuela, apesar de barato, seja uma grande tortura.

O frio é insuportável. Mesmo calçando três pares de meias, usando uma calça por cima da outra, mais duas camisetas e duas jaquetas ainda rola uma tremedeira.

Juro que não tô exagerando!

Se você esqueceu seu agasalho, meu amigo, me desculpe, mas já era. A hipotermia é certa.

E a música, não dá pra abaixar um pouquinho não?

Quem já foi a Choroní, atravessando o Parque Nacional Henri Pittier, vai entender do que eu tô falando.

A estrada é uma espécie de Carretera de la Muerte venezuelana, bastante estreita, de mão dupla, cheia de aclives e declives fortes, muitas curvas de 180º, abismos sem fim e muita chuva e neblina sempre.

O visual é espetacular, sem dúvida, mas os riscos de um acidente, dadas as condições do percurso, são bem grandes.

Mas os imprudentes motoristas de ônibus que fazem o trajeto não parecem se preocupar muito com isso.

Parece exagero mais uma vez, mas é verdade: ligam o som no máximo, a ponto de te deixar quase surdo, e vão buzinando durante todo o percurso, com suas mega-buzinas de navio instaladas no teto (tô dizendo que parece exagero mas, acredite se quiser, é a pura verdade!).

Tocam aquela buzina horrível e ensurdecedora ao longo de todo o caminho, mas obviamente não ouvem as buzinas dos outros, tamanho o barulho dentro do ônibus por conta da própria buzina e da música no último volume.

O resultado? Muitas freadas bruscas e acidentes evitados com muita sorte.

Mas é fácil pensar em uma solução para resolver o problema da falta de segurança, certo?

Limite de velocidade? Diminuir o volume da música pra poder escutar as buzinas dos outros carros?

Claro que não!

Ou você esqueceu que eu tô viajando pela América Latina?

O que que o motorista venezuelano faz?

Pendura na parte interna da frente do ônibus, bem no alto, uma imagem de Nossa Senhora com uma moldura cheia de LEDs, que se acendem toda vez que ele pisa forte no freio.

Parece piada, né?

Nem preciso dizer que as luzes passavam mais tempo acessas do que apagadas.

O nome da santa?

Eu arrisco:

Nossa Senhora do Meu Freio Não Me Deixa Na Mão Agora!

6 Respostas to “Pode rezar, mas me deixa vivo!”

  1. Juliana Junho 27, 2011 às 9:14 pm #

    Hahahaha! Visualizei demais a tecnologia da Nossa Senhora de LED! Posta uma foto disso pq merece! Quero ver! Saudade! Beijão!

  2. André Constanza Junho 27, 2011 às 9:46 pm #

    Muito bom! Acredito em tudo que dizes, é bem assim… Abraço.

  3. Luciana Junho 27, 2011 às 10:59 pm #

    Nossa, eu já tinha rido no post anterior, mas nesse, foi demais!! Fiquei imaginando a tortura, sim, porque esta viagem está mais para tortura do que uma viagem. Agora, sua narrativa foi hilária. Cheguei a ficar com frio por vc…rsss….
    Imagino que deve ter sido um alivio chegar ao seu destino final são e salvo.
    Ri muito aqui. Parabéns pela narrativa. Ah, e boa sorte no próximo ônibus.

  4. Zizo Asnis Junho 28, 2011 às 1:12 am #

    Essa santa é boa! Aliás, não existem ateus nas estradas sul-americanas… Se fosse a Choroni, Marx voltaria com um crucifixo na mão…

  5. Henrique Kugler Julho 10, 2011 às 12:15 pm #

    Hahaha, me arruma uma santa dessa!

Trackbacks/Pingbacks

  1. No fim da estrada da santa… « - Julho 7, 2011

    […] até que a gambiarra com a santa […]

Deixe um comentário