Pra fechar o papo sobre as Guianas, mais uma travessia pro meu currículo, a viagem de Georgetown até Lethem, na fronteira com o Brasil.
Entrei no ônibus esperando pelo pior. 420km de distância e uma expectativa de umas 20h de viagem pelo menos, por uma estrada de terra/areia em dias de chuva pelo meio da Floresta Amazônica.
Até algum tempo atrás nem tinha linha de ônibus pra fazer esse percurso. Só vans e, em temporada de chuva, veículos 4×4 pra dar conta de tanto buraco e atolamentos. Sem contar o desconforto de passar horas e horas numa van apertada ou na caçamba de uma pick-up, sacudindo e levando barro na cara.
Hoje em dia, para quem faz o percurso de ônibus, a coisa está mais tranquila. Os ônibus são velhos, mas os assentos são confortáveis e, pra quem está acostumado com esse tipo de roubada – como o viajante aqui -, dá pra dormir numa boa, enquanto o sacolejo do ônibus vai te ninando de buraco em buraco.
Foda mesmo é ter que parar toda hora nos postos de fiscalização da polícia, que faz todo mundo descer, sujar o pé de barro e ir lá na casinha deles mostrar o passaporte.
Fica aqui meu protesto: ô povo preguiçoso! Custava um policial entrar no ônibus e checar os passaportes ali?
E eu não tô falando de uma ou duas paradas não, mas várias, ao longo da noite. Aí não tem sono que resista e, sem sono, adeus bom humor…
A não ser que…
Você conheça uma turma de gente bacana no ônibus e vá contando e ouvindo suas histórias pelo caminho.
Entre os vários brasileiros e suas incríveis histórias de vida pelos garimpos guianeses, conheci a Andreia, esposa de garimpeiro que levava seus filhos Juan e Cauã até a fronteira para renovarem seu carimbo de permanência no país – o tal do dar um pulinho no Brasil e voltar pra pegar mais 90 dias.
Papo vai, papo vem, descubro que ela conheceu o Sebastião Salgado e conviveu com ele por umas semanas quando trabalhava como enfermeira em comunidades indígenas na Amazônia e ele estava lá fazendo fotos, quiçá, para o livro que eu mencionei aqui.
Ê mundo pequeno!
Andreia, tô esperando aquela foto que você prometeu pra publicar aqui!
…
Ah!, sobre a viagem…
O ônibus quebrou e a gente ficou parado no meio do nada esperando ajuda.
Como não tinha nada que eu pudesse fazer, dormi. Nem vi quanto tempo demoraram pra arrumar, nem fiquei sabendo o que tinha estragado. Apaguei.
Só sei que chegamos na fronteira depois de 18h de viagem, menos do que eu esperava.
Com a cara e a camiseta vermelhas e gosto de terra na boca.
Agora sim, tchau Guiana.
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