Arquivo | Maio, 2011

Missão Venezuela

18 Maio

Terra da Arepa, do Joropo e da maior cachoeira do mundo.

País que reúne a maior diversidade turística por km2 na América do Sul: tem praias caribenhas, montanhas andinas, um pedaço de floresta amazônica, a Sabana com seus maravilhosos tepuys e uma região parecida com o nosso Pantanal.

Tem o maior teleférico do mundo, a sorveteria com mais sabores do mundo, o maior número de ganhadoras do Miss Universo e outras futilidades.

Chega ou quer mais?

Tem uma das maiores reservas de petróleo e a gasolina mais barata do nosso planeta.

Ah, claro! Tem o Chavez, com o seu socialismo retrógrado, suas reeleições perpétuas e seu populismo barato.

E lá vamos nós!

mapa: Traveller's Point

De papo em papo a galinha enche o grão

13 Maio

Pra fechar o papo sobre as Guianas, mais uma travessia pro meu currículo, a viagem de Georgetown até Lethem, na fronteira com o Brasil.

Entrei no ônibus esperando pelo pior. 420km de distância e uma expectativa de umas 20h de viagem pelo menos, por uma estrada de terra/areia em dias de chuva pelo meio da Floresta Amazônica.

Até algum tempo atrás nem tinha linha de ônibus pra fazer esse percurso. Só vans e, em temporada de chuva, veículos 4×4 pra dar conta de tanto buraco e atolamentos. Sem contar o desconforto de passar horas e horas numa van apertada ou na caçamba de uma pick-up, sacudindo e levando barro na cara.

Hoje em dia, para quem faz o percurso de ônibus, a coisa está mais tranquila. Os ônibus são velhos, mas os assentos são confortáveis e, pra quem está acostumado com esse tipo de roubada – como o viajante aqui -, dá pra dormir numa boa, enquanto o sacolejo do ônibus vai te ninando de buraco em buraco.

Foda mesmo é ter que parar toda hora nos postos de fiscalização da polícia, que faz todo mundo descer, sujar o pé de barro e ir lá na casinha deles mostrar o passaporte.

Fica aqui meu protesto: ô povo preguiçoso! Custava um policial entrar no ônibus e checar os passaportes ali?

E eu não tô falando de uma ou duas paradas não, mas várias, ao longo da noite. Aí não tem sono que resista e, sem sono, adeus bom humor…

A não ser que…

Você conheça uma turma de gente bacana no ônibus e vá contando e ouvindo suas histórias pelo caminho.

Entre os vários brasileiros e suas incríveis histórias de vida pelos garimpos guianeses, conheci a Andreia, esposa de garimpeiro que levava seus filhos Juan e Cauã até a fronteira para renovarem seu carimbo de permanência no país – o tal do dar um pulinho no Brasil e voltar pra pegar mais 90 dias.

Papo vai, papo vem, descubro que ela conheceu o Sebastião Salgado e conviveu com ele por umas semanas quando trabalhava como enfermeira em comunidades indígenas na Amazônia e ele estava lá fazendo fotos, quiçá, para o livro que eu mencionei aqui.

Ê mundo pequeno!

Andreia, tô esperando aquela foto que você prometeu pra publicar aqui!

Ah!, sobre a viagem…

O ônibus quebrou e a gente ficou parado no meio do nada esperando ajuda.

Como não tinha nada que eu pudesse fazer, dormi. Nem vi quanto tempo demoraram pra arrumar, nem fiquei sabendo o que tinha estragado. Apaguei.

Só sei que chegamos na fronteira depois de 18h de viagem, menos do que eu esperava.

Com a cara e a camiseta vermelhas e gosto de terra na boca.

Agora sim, tchau Guiana.

Do Equador com amor

13 Maio

Cheguei a Puerto Lopez, no litoral da província de Manabi, no Equador, com um pé atrás. Os muitos apaixonados por Montañita que conheci durante a minha visita à cidade me perguntavam: “Qué vas a hacer en Purto Lopez???”, dizendo que o lugar não oferecia nada especial. Eu não tinha muita escolha, apesar do desejo de permanecer em Montañita, precisava seguir viagem, ou corria o sério risco de ficar vivendo de brisa naquele paraíso de surf e belezas até meu visto expirar.

Apesar da desconfiança, a primeira impressão ao chegar na cidade foi boa. A segunda – ainda melhor – veio com a recepção da dona da pousada onde me hospedei. Brasileira, mineira, de Belo Horizonte, da Pampulha (qualquer semelhança é mera coincidência!), fala um português completamente misturado ao espanhol depois de 20 anos vivendo no Equador, o que a torna ainda mais simpática. A agradável hostería, repleta de árvores carregadas de frutas, galinhas andando ao redor e a boa e velha hospitalidade mineira, me lembrou as fazendas do interior de Minas da minha infância, com o extra da vista para um lindo mar azul. Quando já sentia saudades de um pedaço de broa com café, a mineiridade adaptada me agraciou com um típico pastel de banana madura. Banana aqui, por sinal, é matéria-prima para todo e qualquer tipo de delícia, seja doce ou salgada!

Puerto Lopez fica bem próximo ao Parque Nacional Machalilla, uma extensa área verde no litoral equatoriano. A paisagem é bem diferente das que encontrei nas praias do norte do Peru. Acostumados a amarelos morros desérticos margeando as praias, meus olhos se surpreenderam com o novo verde beirando o azul das águas do Pacífico. Estranhamente aqui, a vegetação é composta por plantas de regiões extremamente secas em meio à floresta tropical, o chamado bosque seco tropical – uma das poucas áreas com esse tipo de floresta que ainda restam na nossa devastada América do Sul. Pelas trilhas, passei por cactos, cobras e calangos – aqueles lagartos de regiões secas… pois é, no meio de uma rica mata.

Machalilla

Calango seco na floresta tropical

Parque de praia

Mas o grande tesouro dos locais é a Isla de La Plata, apelidada “Galápagos dos pobres” por abrigar algumas espécies da queridinha dos olhos do Equador e ser mais acessível – ou, eu diria, economicamente possível – aos bolsos dos simples mortais como eu.  Entrei no barco em direção à ilha sem esperar muita coisa, resultado mais uma vez de comentários de viajantes e relatos de guias de viagem. Ficou provado novamente que quanto menos se espera, mais se recebe. Pelo menos comigo acontece…

O Equador, país generoso que é, pequeno notável de natureza gigante e diversificada, não admitiu que eu continuasse com qualquer tipo de dúvida com relação a suas belezas.  Em mais um dos seus truques para me convencer, tirou da cartola centenas de golfinhos – e aqui não minto, foram centenas! –, que me esperaram chegar à proa do barco e ligar a câmera para se revelar. Começaram o espetáculo humildes, poucos deles mostrando, de longe,  partes de seus corpos. Aproximaram-se com calma, já menos tímidos, para o segundo ato, no qual um grupo ziguezagueava ao redor e o outro, que acredito ser a comissão de frente, saltava lentamente na frente do nosso barco abre-alas. Cerca de 15 minutos depois, terminaram o show com o elenco completo, em perfeita harmonia de saltos entoados por gritos de “Olé!” das companheiras espanholas do passeio. Uma mágica da natureza que deixou boquiabertos os poucos espectadores que tiveram a sorte de subir naquele barco, àquele dia.

Enquanto o guia dizia, orgulhoso, “Esse é o meu país!”, eu agradecia ao Equador por mais esse maravilhoso e inesquecível presente.

Patas azuis sim senhor

Ilha viajante!

Pelas ruas de Georgetown

10 Maio

O grande cartão postal de Georgetown é nada mais nada menos que a maior construção de madeira do mundo – a Saint George’s Cathedral.

Logo ali, na Guiana.

Agora, coisa engraçada era andar por Georgetown prestando atenção no nome das ruas: Rua Principal, Rua do Meio, Rua da Igreja, Rua do Campo, Rua da Estação, Rua do Xerife…

Pra não falar das mais óbvias: Rua Norte, Rua Sul, Rua Leste…

Umas bem curiosas: Rua do Jovem, Rua Alta, Rua da Luz, Rua (da) Laranja, Rua da Água (claro, a rua que margeia o rio!)

Quer mais?

Tem um monte de velhos moradores que ficou imortalizada ali: Rua do João, Rua do Guilherme, Rua do Tomás, Rua do Davi, Rua do Alexandre…

Tem até uma Rua do Da Silva, acredita?

Parece cidade do interior, mas é a capital de um país e tem mais de 230 mil habitantes!

(tá, não é lá tão grande assim…)

Ah, e a mais engraçada de todas: Robb Street! Rua do Robb ou, se você tirar um “b”, a “Rua do Roubo”! Hahaha! Piada pronta!

Se tentaram me assaltar lá?

Umas quinze vezes!

Se conseguiram?

Só umas três! 🙂

Ainda na Guiana

7 Maio

Em Georgetown conheci o Jerry e a Paula, gentil casal que, além de me hospedar em seu hotel, me levaram para conhecer um pouco dos sabores da culinária local, além de renderem ótimas conversas.

Deixo aqui um forte abraço aos dois!

E ali, no Hotel Tropicana, dividi um quarto por alguns dias com o Erich, de quem já falei aqui e aqui.

Êita cabra que já passou por uns bons bocados, viu?

Já atravessou o Brasil e a Europa de bicicleta, entre outras viagens épicas e, pra mim, a maior aventura de todas, viveu por 20 anos em Benjamin Constant, no meio da Amazônia, perto da fronteira com o Peru e com a Colômbia. Não por acaso, ali era conhecido como “Gringo” e viveu de tudo o que é possível para um estrangeiro num lugar tão distante de tudo. Numa de suas peripécias, entrou com um amigo pela floresta e caminharam por mais de mês, levando uma mochila de 30kg nas costas – 15 deles de farinha, seu café da manhã, almoço e janta de muitos dias.

Ah, se eu soubesse dessa tinha economizado uma grana na Guiana Francesa!

E o maluco queria me levar a pé até a Keieteur Falls, de que falei no último post. O cara é doido.

Erich, tá aí pra todo mundo ver a sua reclamação!

Numa hora dessas deve estar perdido no meio de alguma das guianas com sua bicicleta e sua mochila camuflada, mais leve dessa vez, sem toda aquela farinha.

Erich, se estiver por aí, dê notícias!

Guiana, saudade!

5 Maio

É verdade que passei uns baitas perrengues em Georgetown, mas agora que já tô longe, das três Guianas, é o lugar de onde tenho mais lembranças, mais histórias, e do qual vou me lembrar com mais carinho no futuro, eu acho.

Afinal, vida de viajante não é só visitar os cartões postais de cada lugar.

Muito longe disso.

Cartões postais são mera desculpa pra se pegar um ônibus ou fazer uma boa caminhada até eles, e aí sim, no caminho, viver a viagem.

Perrengues fazem parte, e normalmente a gente acaba dando boas risadas depois quando lembra dessas coisas.

Acabei não contando porque decidi estender minha permanência na Guiana, né?

Pois surgiu uma oportunidade imperdível de ir conhecer a Keieteur Falls, a maior cachoeira de queda única do mundo, com seus 226m, e uma das mais fortes, com grande volume de água concentrado.

Um passeio desses compensa qualquer amolação. Ainda mais quando a gente descola um lugar de graça no avião, cortesia da Rainforest Tours, que opera vários passeios pela rica e ainda pouco explorada natureza guianense.

tour incluiu ainda uma visita às Orinduik Falls, conjunto de várias quedas na fronteira com o Brasil.

As fotos falam por si: