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hemingway recomenda:

5 Set

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“assista o nascer do sol o máximo de vezes que conseguir”

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Pode rezar, mas me deixa vivo!

27 Jun

No último post falei sobre os costumes religiosos durante as viagens de ônibus pela Venezuela.

Mas a verdade é que não é sempre assim. Não rola música gospel em todos os trajetos. Depende da região do país, da empresa de ônibus, dos motoristas…

Aliás, o mais normal mesmo é ouvir Salsa e derivados, sempre tocados no último volume, como se a viagem fosse uma grande festa caribenha.

No final das contas, ninguém dorme, ninguém relaxa, ninguém conversa. E ainda termina com uma puta dor de cabeça…

Isso, mais o ar condicionado ligado no máximo, com temperaturas polares, fazem com que viajar de ônibus pela Venezuela, apesar de barato, seja uma grande tortura.

O frio é insuportável. Mesmo calçando três pares de meias, usando uma calça por cima da outra, mais duas camisetas e duas jaquetas ainda rola uma tremedeira.

Juro que não tô exagerando!

Se você esqueceu seu agasalho, meu amigo, me desculpe, mas já era. A hipotermia é certa.

E a música, não dá pra abaixar um pouquinho não?

Quem já foi a Choroní, atravessando o Parque Nacional Henri Pittier, vai entender do que eu tô falando.

A estrada é uma espécie de Carretera de la Muerte venezuelana, bastante estreita, de mão dupla, cheia de aclives e declives fortes, muitas curvas de 180º, abismos sem fim e muita chuva e neblina sempre.

O visual é espetacular, sem dúvida, mas os riscos de um acidente, dadas as condições do percurso, são bem grandes.

Mas os imprudentes motoristas de ônibus que fazem o trajeto não parecem se preocupar muito com isso.

Parece exagero mais uma vez, mas é verdade: ligam o som no máximo, a ponto de te deixar quase surdo, e vão buzinando durante todo o percurso, com suas mega-buzinas de navio instaladas no teto (tô dizendo que parece exagero mas, acredite se quiser, é a pura verdade!).

Tocam aquela buzina horrível e ensurdecedora ao longo de todo o caminho, mas obviamente não ouvem as buzinas dos outros, tamanho o barulho dentro do ônibus por conta da própria buzina e da música no último volume.

O resultado? Muitas freadas bruscas e acidentes evitados com muita sorte.

Mas é fácil pensar em uma solução para resolver o problema da falta de segurança, certo?

Limite de velocidade? Diminuir o volume da música pra poder escutar as buzinas dos outros carros?

Claro que não!

Ou você esqueceu que eu tô viajando pela América Latina?

O que que o motorista venezuelano faz?

Pendura na parte interna da frente do ônibus, bem no alto, uma imagem de Nossa Senhora com uma moldura cheia de LEDs, que se acendem toda vez que ele pisa forte no freio.

Parece piada, né?

Nem preciso dizer que as luzes passavam mais tempo acessas do que apagadas.

O nome da santa?

Eu arrisco:

Nossa Senhora do Meu Freio Não Me Deixa Na Mão Agora!

La Montaña

1 Abr

Depois que fui oficialmente categorizada de cachaceira (quase nessas palavras  – e, aqui esclarecendo, injustamente!) pelo pessoal da produção do programa de TV no qual resultará nossa viagem pela América do Sul, fiquei um pouco cismada. De leve, minha mãe puxou minha orelha de longe. Em Máncora, a cidade de praia mais festeira do Peru, o alerta de tsunami virou um grande festival meio hippie no alto do morro refúgio – o “Tsunami Party” – , do qual participei ativamente. Na cidade fiquei o dobro do tempo que previa meu roteiro. Notei que andei meio fora dos trilhos.

Cruzei a fronteira do Peru com o Equador não pelo caminho mais aconselhável ou seguro e sim pelo mais feio, fedorento e emocionante, onde algumas pequenas tábuas de madeira separam – ou unem – os dois países. Em uma espécie de tour fronteiriço, para atravessar da caótica cidade peruana Águas Verdes para a tumultuada Huaquillas no Equador, fui conduzida por um “guia” local por taxis, mototaxis, mercados, contrabando e câmera ligada (quando não era advertida a guardar o material se não quisesse ficar sem ele), documentando o que podia. Situações e pessoas que tem um padrão de loucura nada raro nessas minhas andanças por esses dois países (crianças, não tentem isso em casa…).

No Equador, novo país, nova fase, novas propostas, resolvi colocar a vida em dia e provar que não só de cerveja vive o homem – ou a Müller. Para isso, mudei meu plano de viagem e fui direto para a costa. Pensei: vida saudável, frutas, muito ceviche (peixe cru, comida típica da região, tem coisa mais saudável para se colocar no estômago?), caminhar na praia de manhã cedo, bronzear a pele e alimentá-la de vitamina D, dormir cedo, aprender a surfar. Assim, deixei o frio da serra equatoriana e seus inevitáveis vinhos, bolos de chocolate e aconchego dos bares para mais tarde.

Tinha me esquecido, porém, que um dos destinos mais famosos de praia no Equador se chama Montañita. Famoso pela festa! Impossível escapar do lugar super turístico, desses que não podem deixar de estar em um guia de viagem. Como fugir? Já sei, vou me hospedar em um lugar bem tranqüilo, La Punta, uma espécie de bairro afastado da vida frenética do povoado, pensei. “Fique no máximo duas noites”, disse o anjinho no meu ouvido direito, e assim escrevi no meu cronograma. “Melhor reservar três noites, vai que o tempo não é suficiente para você pesquisar os hotéis, restaurantes e atrações da cidade”, sussurrou o capetinha do outro lado, já sabendo que caio fácil em suas tentações. Resolvi: reservo três noites e fico só duas, assim mantenho a paz dos meus ouvidos.

Cheguei ao hotel lindo e tranqüilo, onde também funciona uma escola de surf. Primeira missão: reservar o primeiro horário do dia seguinte, o das 8h (aiiiii…) para aprender a surfar. A água andava estranhamente gelada aqueles dias. Melhor, água gelada revigora! Cheia de coragem e força, saí para caminhar na cidade, fazer meu trabalho. De cara, conheço um argentino. Argentinos são perigosos quando se quer ter uma vida saudável. Cozinheiro em um restaurante famoso, saí do lugar com um jantar e um drink combinados. O anjinho gritou, desesperado: “só o jantar!!!” O capetinha revidou: “bebida não faz mal a ninguém!” Para acabar com a confusão, adiei o jantar para a próxima noite, até lá eles se entenderiam.

De volta ao hotel, fui apresentada a um brasileiro que andava por ali. Nome: Cauê. Atividades: motoqueiro, chef de cozinha, fotógrafo, surfista, cinegrafista, viajante, se diz massagista, blogueiro, e louco (aposto que esqueci alguma coisa). Saiu do Brasil há 4 meses numa moto que tem a minha idade, surfando pelo Pacífico, fazendo vídeos e alimentando um blog onde conta suas aventuras.

Com a inspiração que esse cara me transmitiu e o equipamento profissional que gentilmente me emprestou (valeu, rapaz!), fui ao mar para mais uma da série  “a primeira vez que fiz…” dessa viagem, que tem se revelado a mais maluca e interessante da minha lista. A primeira vez que encarei uma prancha de surf! Como dizem que uma imagem vale mais que mil palavras, segue um vídeo do episódio, que é o resultado da minha primeira aula de edição, inspirada nos vídeos “irados” do meu “maestro” Cauê (gracias, rapaz!)!

Lindo o mar de Montañita, repleto de surfistas cruzando suas ondas gigantes e, muitas vezes, sendo devorados por elas! Pensei que queria virar surfista depois que percebi a grandeza do surf, com o qual tive o primeiro contato em Máncora que, como Montañita, é um destino de turismo do esporte. Gente de todas as partes, inclusive do Brasil, vem para a costa do Pacífico sul americano buscar e se dedicar às melhores, maiores e mais longas ondas. Descobri que o surf é mais que um esporte. Ele é quase uma filosofia e, seguro, é um estilo de vida dessa pessoas de ótimo astral, que conversam com uma louca empolgação sobre “drops” e “beach breaks”, todas palavras novíssimas no meu vocabulário (as quais não posso explicar por não conseguir ainda entender o significado delas no mar).

Outra vez, não consegui deixar uma cidade no tempo previsto e fiquei em Montañita além do que planejava. Mergulhei na cultura do surf e comi muita salada de frutas! Sobre o resultado do trato entre o anjinho e o diabinho, o argentino e a festa, não posso divulgar. Existe um dito em Montañita que manda: “Lo que pasa en Montañita, se queda en Montañita” (algo como “O que acontece em Montañita, morre em Montañita”). Não serei eu a descumprir essa lei!

Surf Camp

Let's go surfing now!

Yes, eles tem belas praias!

E sol se pondo no mar...

...o que deixa tudo ainda mais lindo depois!

Professor elástico!

Tá louco, maestro?!

Tráfego em Máncora

Tsunami Party!

Inserida na cultura do surf!

Segura a onda!

11 Mar

Chego em Máncora, povoado de praia mais famoso do litoral norte do Peru, às 5 da manhã de hoje, assustada com a parada repentina do ônibus e passageiros saindo. Estava no milésimo sono e não vi que chegara ao meu destino, depois de 10 horas de viagem num ônibus que levaria os que ficavam quase ao Equador. Nem sei como dormi tão profundamente, com um folgado do lado ocupando, além de todo seu espaço, metade do meu. Sem querer generalizar mas generalizando (porque geralmente é assim), homens não se contentam com o tamanho dos seus bancos. Me dá uma raiva….

Na saída do ônibus, pisei numa poça de água suja, que preferi pensar ser apenas água de alguma chuva, mesmo sabendo que não chove tanto por aqui. Deserto, escuro, na rua só os mototaxistas que me rodeavam como urubus, insistindo irritantemente para que eu escolhesse seus serviços. Chatos sempre, me salvam sempre.

Tinha mais ou menos onde ficar, nada muito confirmado mas já conversado. Não me lembrava o nome do albergue, na correria da partida de ontem não deu pra anotar. O mototaxista, sempre me salvando, se lembrou e me levou em seu mototaxi caindo aos pedaços ao lugar, cobrando uma fortuna de 3 soles pela viagem de cerca de 2 minutos. Reclamei, ele disse que, àquela hora, eu que agradecesse. Com a simpatia peruana, sempre. Concordei. Agradeci.

Demoraram a abrir a porta do albergue. O atendente, que disse ter nome de brasileiro – Eder Manuel -, não localizou minha reserva mas me colocou num dormitório de apenas 4 camas, depois de eu insistir que não precisaria esperar até a hora do check inn para descansar um pouco no quarto vazio. Com a simpatia peruana, ele concordou, eu agradeci. E dormi até às 9h.

Chegada estranha. A mais estranha dessa viagem que completa hoje 31 dias. Parece o dobro.

Fui direto à recepção conversar com quem havia me convidado a ficar por 2 noites no albergue. Também não sabiam quem era, já que a assinatura do email levava um nome fictício, usado por todos que respondem emails aqui. Nenhum problema, me disseram para “desayunar” e que logo conversaríamos. Nesse mesmo momento, uma loura inglês hablante (como a maioria dos hóspedes) soltou um “What???!!!”, apontando para um aviso na parede: ALERTA DE TSUNAMI HOJE. CUIDADO NO MAR. Simples assim. Ela ficou preocupada em não poder surfar. Eu fiquei meio excitada e nada preocupada, como sempre certa de que nada ruim pode acontecer. Até que fui à internet…

Pelo visto, a coisa anda feia pelos lados do Pacífico. Máncora é pequena e tudo está muito perto do mar. Meu albergue, por exemplo, de onde digito este texto, está apenas a 50m das águas oceânicas. O festeiro lugarejo promete ser um dos primeiros no Peru a ser atingido pela tsunami. Fiquei tranqüila quando o gerente do albergue prometeu subir ao cerro mais próximo, por volta das 18h, para avaliar o mar. Se vir que um montão de água se comporta de forma diferente da normal, vem buscar seus hóspedes para levá-los sãos e salvos ao morro. Até prometi me juntar ao estudo, fazer uns vídeos para o programa, ver o mar de cima. O problema é que ouvi no noticiário que, por aqui, a onda gigante chega por volta das 15h. Parece que não vai ser tão ruim. Mas vejo movimentação, pessoas falando ao celular, o gerente insistindo nas tais 18h… acho que vou ali apressá-lo.

Tsunami… era o que me faltava acontecer! Volto pra contar a aventura. Fuerza Brasil!!!

Encontros & Desencontros

6 Mar

Estamos chegando ao fim de nossa aventura. Daqui para frente, cada vez mais, momentos ficam para trás.
Hotéis, estradas, postos de gasolina, comidas diferentes…Faltam menos de 5 dias para voltarmos para nossas rotinas. Mas com certeza além de muita história para contar, conquistamos também o que para mim é o mais importante:  novos amigos!  Novos e etérnos!

Me lembro ainda do primeiro encontro com nossa primeira viajante: Sol. Pra variar chegamos mais tarde do que o combinado, e quando entramos no hotel: Albergue ‘El viajeiro’ em  Montevideo, onde havíamos marcado o encontro, ela já dormia há muito tempo e, claro, tomamos uma bronca (branca, e com razção) por chegar tarde já fazendo barulho.
Realmente era muito difícil pegar no sono naquele quarto sem janelas e com um só ventilador.
Sonolenta ainda nos ofereceu um jantar em um dos restaurantes que até hoje está no TOP 5 da vaigem! Ofereceu mas não teve força de nos acompanhar. 
Ela também nos acompanhou em um dos hotéis top 5 da viagem: Noos de Buenos Aires.
Foram dias puxados, ainda tínhamos energia de iniciantes e esquecíamos de coisas básicas como comer e ir ao baño! Visitamos muitos hotéis, quase fomos expulso de um também, confundimos lojas de roupas com albergues, fomos para uma churrascaria (e olha que ela é vegetariana), cantamos
parabéns para a mesa vizinha, conhecemos o Gustavo Borges…Entre o Uruguai e a Argentina foram muitas aventuras, com direito a visita
corrida de carro pelas ruas de Colonia de Sacramento e corrida  de revezamento para pegar o ferry-boat.
Sol: você disse que não aguentaríamos mas estamos quase cruzando a linha de chegada  ainda firme e fortes. Claro que depois de seus conselhos
passamos a nos alimentar melhor, e a ir no banheiro mais frequentemente, mas continuamos comendo carne e continuo esquecendo de passar o protetor solar! Muito obrigado pelo carinho e preocupação! Que você continue sempre com esse seu zelo de mãe por todos aqueles que estão ao seu redor, que só nos faz sentir confortável ao seu lado!

Vegetarianos são pessoas tranquilas

Sol no OstinatoNa hora do lanche eu ando de ferry boat

 

Com nossa segunda viajante não podia ser muito diferente. Mas não nos atrasamos apenas algumas horas, e sim um dia inteiro!
Deveríamos ter chegado e dormido todos no mesmo hotel em Mendoza. Como só chegamos no dia seguinte, combinamos nosso encontro nesse mesmo hotel.  Claro,  não conseguimos chegar no horário previsto e por isso, quando finalmente alcançamos nosso destino, ela já havia saido de lá para o hotel no qual ficaríamos aquela noite.
De um hotel para outro foram quase duas horas dando voltas nos arredores da cidade até finalmente conseguirmos nos encontrar!
Ela já estava instalada em seu quarto quando batemos na porta já filmando o encontro. De lá, pegamos a cordilheira dos Andes com destino a Santiago. Passamos frio invadindo o parque do Aconcágua, visitamos um cemitério cheio de botas, jantamos com direito a menu desgustação e vinhos harmonizados, trocamos de hotel de madrugada, corremos pelos corredores de roupão, dançamos forró no quarto com cama gigante,
visitamos vinículas, provamos e ganhamos vinhos, comemos um caranguejo gigante (logo ela que não come frutos do mar, curtiu)  e eu descobri uma nova assistente para ajudar a editar nosso programa!
Naty!Foi muito bom te conhecer, e de quebra ganhar mais um dia extra com a sua presença. Sua dedicação, profissionalismo e a cima de tudo, sua alegria contagiante, daquelas que topam tudo, foram inspiração para a sequência de nossa aventura! Estou mesmo contando contigo para me ajudar! (Você lembra seu nome de primeira agora né)

Prazer e trabalho

 

 

Cemitério com botasCopo vazio não fica de pé!Copo vazio não fica de pé!

 

Invadindo o Aconcágua

Naty cuidando de suas bolasCopo vazio não fica de pé!

 

 

 

 

Quando chegamos em Santiago, ainda com a nossa segunda viajante, nosso terceiro viajante já dormia em seu quarto. Deixamos um recado
por baixo da porta dele  combinando de nos encontrar no café da manhã no dia seguinte. Quando acordei havia um bilhete em baixo da porta do meu quarto combinando o encontro para mais cedo. Claro que não vimos o bilhete e acabamos mesmo indo encontrá-lo no horário que havíamos previsto. Acho que ele quase acabou com o café da manhã do hotel de tanto que nos esperou aquela manhã. Dali em diante rodamos por Santiago, roubávamos as frutas que ele guardava para comer depois, peguei carona no possante dele (depois que consegui achar o banco do carona), demos com a cara na porta de uma vinícula fechada, fizemos invertida em uma praia de nudismo, filmamos (e refilmamos) o take que ele corre pelado para mergulhar no mar, jogamos freesbe, rimos com medo de nossa casa mal-assombrada em Algarroba ( e quando o senhor, dono da casa, convidou ele para dormir junto com ele), fotografamos uma sobremesa em chamas,
nos preocupamos quando cruzamos com ele no meio da estrada em um dia e lugar totalmente fora do roteiro, e logo depois encontramos ele na internet em um posto, fomos à piscina do hotel que não tinha roupão para nos emprestar, visitamos paisagens lunares, nos divertimos quando ele chamou o Raul no meio do passeio,e quando sua meia caiu na lama e ele cheirou para confirmar o que todos já sabiam, nadamos em águas quentes, bebemos cerveja na van, visitamos geisers, fomos de madrugada invadir a jacuzi do hotel (alias,o top 1 da viagem), fomos barrados em um hostel em Valparaiso,
e ele nos ajudou a burlar a fronteira chilena tarde da noite…
Guri esse seu coração enorme só atrai as pessoas e as fezem querer ficar perto! Não deixe que nada te tire esse dom de aproximar e conhecer pessoas novas e claro, não se esqueça de passar na rodoviária, no centro de informações turísticas,  pegar informações dos hotéis e restaurantes e quando der, dá um pulo no Rio para pegar umas ondas e andar de bike! Bye bye Jhonny!

 

Caranguejaço

Rauuul

 

Em ValparaisoNa praia mas de roupa!

Piscina em SantiagoVolta do trabalho em Santiago

Reflexões de um chimarrão

 

Já com o quarto viajante foi um pouco diferente. Dessa vez ele que estava atrasado. Um dia atrás no cronograma!
Estávamos filmando na praça em Arequipa, quando de repenteele  surgiu. Com seu crachá, livro, câmera…e logo começou a nos contar histórias de sua tragetória de viajante, uma mais engraçada que a outra. Além disso vieram as confições no jantar que, acho que não cabe a mim contar aqui, mas garanto também que é cada uma melhor que a outra! Cobrem dele!
Aliás essas confições não vieram a base de vinho ou cerveja. O cara não bebe, não fuma, e não come carne nenhuma! Ele é simplesmente sincero assim por natureza! Fala e pergunta o que está afim de saber, sem papas na língua. Ttem tanto o dom da palavra que até agora não pagou nenhum hotel, nem refeição na viagem, conseguiu tudo em troca de um lugar no guia.
Em Arequipa entramos e saimos de hotéis, visitamos um hotel gerenciado por um brasileiro,  esperamos quase uma hora para visitar um museu, visitamos o museu em 10 minutos, fizemos ele abraçar um mascote na rua, conhecemos um grupo de mineiras em um restaurante,  tentamos visitar um convento onde ainda arrebentei meu chinelo no meio do take…
Depois voltamos a encontrá-lo quando ele chegou correndo no city-tour em La Paz e ainda em Potosi, quando ele teve coragem de me acompanhar em um tour até o coração da mina de prata. Coragem porque foi um tour realmente com muita emoção por estreitos buracos empueirados aonde eu mal cabia, imagina ele no alto de seus quase 1,90 de altura!
Ainda nos encontramos rapidamente em Uyuni, apenas um papo na rua e uma cantoria desafinada. Depois estivemos juntos de novo em Tupiza, ele saiu para passear de bicicleta pela redondezas, mas era o meu dia de folga! Nos encontramos apenas para jantar um nhoc com molho de queijo rock-fraco, aonde eu ensinei para ele que: sempre que entrar em conflito
fora de seu país, use sua língua natal! Na volta vimos preparativos para o carnaval e ainda encontramos duas dançarinas na cozinha do hotel, já que os vizinhos de cima não nos deixavam dormir e as holandesas do lado já estavam dormindo!
Me impressionou conhecer um cara tão jovem e com tantos ideias e planos! Um jovem viajante solitário que já mostra que tem muitos destinos a conquistar e planos a serem seguidos!
Henrique, continue com essa sua gargalhada larga que, de tão inocente, conquista os que estão ali escutando!
Mantenha seus ideais e planos, sem sair do roteiro  mais! Suerte companheiro!

City tour em La PazCom o tio na minaEnxadristas

Converting vegetarians

Noite em ArequipaVestidos para minar

Teto da casa da moeda – Potosi

Com o tio na mina

Enxadristas

Já com a quinta viajante voltamos a nos atrasar. Não muito, mas chegamos 2 horas depois do combinado na praça principal de Cusco. Chegamos e ela estava trabalhando pelas redondezas, pegando informações em albergues e no centro informações túristicas. E foi lá que nos encontramos, já com a câmera ligada querendo saber de tudo que estava acontecendo. E ela manteve muito bem a espontânedade.Deve ser mesmo muito complicado, para não dizer chato, estar viajando sozinha, tranquila, e de repente aparecem mais 3 com câmeras, o tempo todo de olho, querendo avaliar seus passos.Acho que ela se saiu muito bem, apesar dela não pensar assim. Nesse dia mesmo enfrentamos a saga de encontrar nosso hotel, um bed and
breakfast que se escondia em uma montanha, fora do centro da cidade. Depois de encontrar e enfrentar uma internet super lenta, um banho frio e com pouca água e uma pizza que nem lembro o  sabor, finalmente relaxamos com um vinho no quarto, com pedaços de rolha. De lá fomos a Olantaitambo filmamos na chuva, fizemos algumas comprinhas, tiramos foto de um menino em troca de moedas do Brasil, andamos em 4 em um mototaxi e nos hospedamos em um hotel na estação de trem que nos levaria nos dia seguinte para Águas Calientes, hoje chamada de Machu-Picchu pueblo.  No dia seguinte  estávamos cedo no trem e logo chegamos em nosso hotel, que nos recebeu com um prato de chocolate (que logo depois nem o prato sobrou). Tivemos meio dia livre, outro meio visitamos o hotel
aonde se hospedou a Cameron Diaz…preferia o dia inteiro livre! Jantamos e provamos uma torta de chocolate incrível, saimos e bebemos dois piscos pelo preço de um, e conhecemos dois ingleses da mesa ao lado que quase ficaram sem comida, cerveja nem cigarros!
(Parenteses)
Quatro e pouca da manhã estávamos de pé na fila para pegar o ônibus para Machu Picchu. Tudo para chegar cedo e conseguir um carimbo que nos daria direito a subir a Wayna Picchu. E, claro, tudo valeu muito a pena.  Subimos no ponto mais alto da cidade, as nuvens baixas da manhã ainda cobriam tudo, e enquanto Maribel, nossa guia, nos contava um pouco da história, Machu Picchu ia se descobrindo para nós.
Todo aquele mistério ia se revelando aos poucos para nós. Descemos e atravessamos casas, ruas, ruinas…Estávamos para encarar um subida, quase escalada, para um local de onde poderiamos ver toda Machu Picchu de cima, local onde os Incas admiravam e estudavam as estrelas e constelações. E dali acredito que se podia inclusive manipular o céu, a lua, o sol…Uma subida vertiginosa e muitas vezes  perigosa de tão exposta, mas que valeu cada degrau. A vista é estarrecedora, dali nos sentimos um grão no mundo, mas um universo em nós. Entendemos porque os Incas veneravam tanto a natureza e as montanhas: Apu Wayna Picchu, Apu Machu Picchu!
Voltamos, outros, e continuamos o passeio por Machu(va) Picchu, ao final da visita guiada, nos sentamos no ponto mais alto e apreciamos a chuva que molhava toda aquela história que nos contaram.
Ficamos em silêncio sem coragem de dizer que queriamos ir embora, mas como tudo que é bom, uma hora tem acabar e que, para ser bom, tem que acabar.
(Fecha parenteses)
De volta ao hotel piscina: de águas calientes e sonho de um dia que em mim não terá fim. Talvez o ponto mais alto (sem trocadilhos) da viagem. Com certeza um dos pontos mais alto da minha história.
Voltando a terra, ou melhor dizendo, ao trem de volta a Olantaitambo. Filmamos alguns encerramentos para o capítulo quando não éramos interrompidos pelo desfile de roupas promovidos pelos “comissários”
do trem. Chovendo, ainda tentamos dormir mais uma noite no hotel da estação, mas não foi possível. Voltamos então Cusco, ou o que posso chamar de ritual de passagem, do éterio para o terrestre, do mágico
para o mundano. Uma vez em cusco, faça como os cusquenhos – cerveja cusquenha, welcome drinks, noitadas free – caimos na noite e voltamos cedo, de manhã cedo!.
Quando acordamos, pra variar já precisávamos sair de encontro ao nosso próximo destino enquanto ela precisava continuar suas pesquisas e, se conseguisse, também trocar de cidade- só vim a descobrir
mais tarde que ela ainda ficaria por lá vários dias. É realmente uma cidade encantadora, de encontros e paisagens incríveis, e claro, carveja cusquenha, welcome drinks, noitadas free…
Li: esse seu jeito independente e despojado, de quem quer conhecer a tudo e a todos vai te levar lugares e pessoas sensácionais! Siga em frente com vontade de conhecer, descobrir, saber, aproveitar, provar…
Continue aberta a novas aventuras e mergulhe em cada uma delas! Mantenha seus planos, mude seus planos, siga a risca seu cronograma e às vezes jogue ele todo para o ar! As contradições são importantes
para aqueles que querem conhecer e provar de tudo! E no final de tudo, ao sentir saudades de casa, volta cheia de histótias e novos conhecimentos para os que te esperam por lá!
 

Cusco

 

De costasDesvendando

Incas

 

Machu PiscoManhã em Machu Picchu

Machu(va) Picchu

Reflexões no trem

 

Uma foto por moedas brasileiras

Teto do trem

Turistas

Trem bão

TortaWelcome drinks

Vista de Wayna

 

Com o sexto e último viajante não foi muito diferente, mas como já estávamos calejados de deixá-los esperando, marcamos no saguão do hotel que dormiríamos quela noite em La Paz. Chegamos e ele já estava azul de fome, topou nos acompanhar filmando pela cidade até encontrarmos algo para almoçar. E olha que isso demorou! Quando finalmente resolvemos parar para comer, veio um garçon contando que teria sido amigo do Che e, claro, como bons periodistas, paramos para escutar sua história. Comemos uma pizza mais ou menos, entramos e saimos de hotéis, centro de informações turísticas, fizemos um city tuour sonolento, onde encontramos nosso 4o viajante,
jantamos blood rice com pisco sur e vinho e voltamos a pé de noite para o hotel. No dia seguinte fomos para o Loki, um albergue incrível em La Paz. Mas não é incrível por causa de suas instalações, o melhor é o bar
que funciona até as 2 da manhã e, de lá, todos saem juntos para onde a vida nos levar. E nessa conhecemos pessoas do mundo todo, pegamos taxi de graça (cortesia de um dinamarques), fomos para noitadas free (lá as
noite também são free), bebemos vodca (sem vodca), pedimos para tocar reggaetom, jogamos sinuca, jogamos sinuca, ajudamos a levar um bebêdo para o quarto, conectamos na madrugada, conversamos com taxistas… Mas o Loki  não é só uma experiência noturna, lá também se conhece gente de dia, que as vezes dividem quarto conosco, e que muitas vezes encontramos de volta na noite…o que pode ser muito bom, mas às vezes…Ok! Não é só de hostel que se vive em La Paz. Pode-se conhecer e fazer compras na rua das bruxas, pode se planejar conhecer a estrada da morte, subir um pico a quase 6 mil metros de altura, nevado, em uma caminhonete fedida à alguns centímetros de  um precipífio. Pode-se, inclusive conhecer vendedores de turbinas em saguões de hotel. Mas deixando La Paz para trás, iríamos dali para Oruro acompanhar os preparativos do carnaval. Decidimos na última hora levar nosso viajante
conosco, o que para ele foi uma alegria no momento, mas acho que ele viria a se arrepender depois. Não tínhamos hotel lá e conseguimos, de última hora uma esplunca que mal tinha espaço para as 4 camas aonde dormimos, e
muito menos cortina na janela. Na verdade cortina até tinha, mas conseguimos colocá-la a baixo antes de dormir. Lá ele também conseguiu comer a tão sonhada salchi-papas, que até o vira-lata da praça recusou. Passados os perrengues iniciais, nosso viajante precisava pegar um ônibus de volta à La Paz no dia seguinte. Deixamos ele ônibus, mas viemos saber depois que sua volta foi uma verdadeira aventura!
Hélio, aproveite esse seu ano sabático da melhor maneira póssivel! Pense no que foi e no que pretende daqui para frente. Viage pelo mundo e em suas própias idéias. Mantenha esse seu espírito aventureiro, desbravador de quem quer conhecer o mundo sem medo e se conhecer junto. E confundir o mundo consigo mesmo!

Conexões na madrugada

Helio se maquiando para entrevistaJantando PiscoJantando Pisco

 

Noite em Oruru (com cortina)Pico nevado

Volta a pé

Além de viajantes, travell-writers, viajante-pesquisadores – ou como quiserem ser chamados- essas pessoas não serão viajantes em nossas vidas, mas apartir de agora, habitantes!
Espero poder reencontrar todos vocês e arriscaria dizer que, espero poder revê-los pelo mundo! Seja a trabalho, viajando, ou mesmo apenas virtualmente. Mas que os momentos que dividimos
fiquem, não só apenas em posts e fotos, mas em memórias e sentimentos.
 

A saga viajante por uma estrada boliviana

3 Mar

Só na Bolívia uma estrada que atravessa um rio não tem ponte. Saímos da cidade de Uyuni, rumo a Tupiza, em direção à fronteira argentina, quando, ainda no primeiro ¼ dos 200 quilômetros que deveríamos percorrer, nos deparamos com o algoz do nosso princípio de jornada: o rio sem ponte. Ao chegar à sua caudalosa margem, soubemos da solução empregada pelos bolivianos: esperar. Esperar a água baixar. Isso deveria acontecer em 1 hora. Ou em algumas horas. Ou em alguns dias. Na pior das hipóteses, em mais um mês. Aaah bom!

O verão altiplânico, de dezembro a março, às vezes até início de abril, é caracterizado por um período de chuvas. Não que chova todo o dia, mas algumas horas – o suficiente para encher rios e inundar salares. Ou o salar, no caso o de Uyuni, o maior deserto de sal do mundo, que visitamos no dia anterior. Se as chuvas por um lado restringem alguns passeios pelo salar, por outro transformam o local num grande espelho d’água, que reflete montanhas, nuvens, carros 4×4, viajantes. Já havia visitado esse recanto há alguns anos, nas mesmas condições “sob água”, e minha opinião não mudou: é uma das maravilhas naturais mais espetaculares da América do Sul!

O altiplano, a entre 3 e 4 mil metros de altitude, situado entre duas ramificações da Cordilheira dos Andes, é seguramente uma das regiões mais bonitas do planeta. Percorrê-lo de carro tem sido um privilégio, mas que exige tranquilidade para dirigir numa estrada cheia de curvas, para administrar o pneu que esvazia, para apreciar a paisagem sem perder o foco da direção. Ou simplesmente para enfrentar o rio que não tem ponte.

A tranquilidade, aqui, porém, durou exatamente duas horas. Talvez o volume da água tivesse diminuído um pouco, mas realmente muito pouco para que, inconsequentemente, assumíssemos uma batalha com a correnteza. Estacionados junto à margem, era hora de tomarmos uma decisão.

Caminhões, em geral encaravam. Veículos, alguns recuavam. Outros buscavam uma rota alternativa, acompanhando a margem no rio, até desaparecer no horizonte. Entre os que seguiam por esse caminho mágico, alguns voltavam; um ou outro surgia, meia hora depois, no outro lado do rio; outros carros, sem deixar qualquer vestígio, simplesmente desapareciam. A dúvida estava lançada: seria o rio mais estreito e tranquilo para ser transpassado por algum ponto mais adiante?

Decidimos por desvendar essa tal rota misteriosa. Como pista, rastros de pneus de quem se aventurou antes de nós. Constatamos que estávamos no meio de um deserto, não de sal, mas sim de areia mesmo, muita areia, pequenas dunas, vegetação rasteira, um pouco de mato e algumas lhamas. Não podíamos frear, sob o risco de atolar e não mais prosseguir. Em determinado momento, Letícia saiu do carro para analisar o terreno. Pobre produtora, foi obrigada a retornar pulando dentro do veículo em movimento. Rali Bolívia-Dakar.

Estranhamos o fato de o rio, naquele local em que estávamos, ser mais extenso e caudaloso, o que dificultaria mais a travessia. Não importava, já não haveria mais volta. Seguíamos deserto adentro, até o rio sair de nossa visão. Um par de quilômetros adiante, notamos uma duna maior sobre a qual se encontravam trilhos de trem. Uma pequena camionete que seguia à nossa frente tenta a subida. Mas sua roda traseira afunda na areia. Atolado. Ao saírem do carro, percebemos que se tratava de uma família boliviana, a qual, junto a mulheres e crianças, ajudamos a empurrar o veículo. Algumas tentativas e conseguimos desatolar a camionete. Agora era nossa vez. Após uma breve ré, a fim de ganhar velocidade, o pé firme no acelerador sentencia nossa sorte: subimos, conseguimos! Chegamos aos trilhos do trem!

E aí vem nossa surpresa: não deveríamos transpor os trilhos de trem, mas rodar sobre eles! A alguns metros sobre o rio, esse era o segredo para chegar à outra margem. Um estreito segredo, sobre o qual não poderíamos errar. Rodar reto e uniforme. Nada de olhar pra trás. Muito menos pra baixo. E nem pensar que um trem poderia passar por aqui a essa hora. Xô pensamento!

Feito! O que chegou a parecer impossível foi superado! Estávamos no outro lado do rio, ansiosos para seguir viagem. Mas estávamos no altiplano, na Bolívia, e claro que a aventura não havia terminado. Não tardou a nos depararmos com outro rio, onde havia um caminhão atolado. Felipe foi ao local constatar a profundidade, e deu sinal verde: neste enfrentaríamos a correnteza, e foi tudo bem. Mais adiante, um riacho, que, apesar do porte bem menor que os rios anteriores, demonstrou-se bastante traiçoeiro a quase nos atolou. No restante do percurso, mais Bolívia-Dakar: um trecho de barro puro, o qual deslizava o carro, que sofria sem qualquer estabilidade. Ao alcançar as elevadas altitudes, a estrada, sempre de terra, se mostrou mais firme, porém do tipo de fazer inveja a de La Paz-Coroico (evito dizer que seu codinome é Estrada da Morte para não assustar as mães): estreita, beirando penhascos, permitindo às vezes um carro por vez. Aos acrófobos, é severamente recomendável não olhar para baixo. Como consolo, a paisagem se mostrava espetacular, mesmo na penumbra da noite que a aquela altura já havia chegado sem pedir licença.

Próximo à chegada, Tupiza, um pedágio “meio informal” nos tentou ser cobrado. Não era um valor alto, mas era o maior valor entre os pedágios bolivianos. E talvez o maior valor porque éramos estrangeiros. O motivo alegado de tal cobrança: uso da estrada. Da estrada que não tem ponte? Da que a terra vira barro? Da que beira penhascos sem sinalização? Ok, podem passar. Não costumo barganhar com bolivianos, que têm uma moeda fraca e uma economia que, para nós, se torna muito acessível. Mas aqui era uma questão de princípios! Se cobrassem a aventura, bem aí seria justíssimo…

Ao final, o percurso de 208 quilômetros foi devidamente vencido. Em 9 horas. E os olhos, sempre atentos e despertos, foram rapidamente apagados na primeira cama que encontrei.

Querida encolhi os viajantes

Espelho de sal

Algum engenheiro boliviano esqueceu de uma ponte aqui...

Algum engenheiro boliviano esqueceu de uma ponte aqui...

Um colorado no salar

Paisagem no fim do trajeto, mas isso só veríamos num passeio diurno no dia seguinte...

Outro rio?? Isso é sacanagem!

Se eu fosse um caminhão também encarava...

Esperar, esperar

Talvez olhar ajude a baixar a água...

Miragens

3 Mar

1.

No meio do deserto, calor e sol escaldante. Longe do mar, homens caminham há dias a procura de água e alento. Caem de cansaço, dor e sede. É o fim. Não, enquanto sobrar um fio de vida, ele promete seguir adiante. Os outros, menos guerreiros, cedem ao deserto. Mas ele caminha. A pele já não suporta a força dos raios vermelhos do sol e derrete. Não é o fim, ele pensa ao ver uma ponta verde, distante mas presente. Esfrega os olhos com as mãos ásperas de areia. É uma miragem. Já vi muitas nesse caminho. É só mais uma, pensa. Ele para, senta, o calor confunde seus pensamentos. Uma ponta verde, ainda ali. E segue na direção daquela cor diferente do amarelo e azul que fazem parte da sua vida há tantos dias. O verde aumenta. Ganha tonalidades. Um reflexo de luz cega seus olhos: água!

Ops… desculpem a viagem! Estava imaginando a descoberta desse lugar mágico: Huacachina, pequeno balneário em Ica, 4 horas ao sul de Lima, no Peru. No meio de dunas gigantes, um pequeno lago cercado de árvores faz o cenário parecer magia. Nesse oasis habitado, os montes de areia, muito próximos das casas, me impressionam. Como permanecem de pé, eretos, sem despencar e aterrar as construções a seus pés? Não, isso não acontece, me disseram os locais. Coisas da natureza peruana.

Huacachina, a miragem

Huacachina é um lugarejo tranqüilo e quente, onde a grande maioria dos hotéis e albergues tem uma piscina no meio. Destino perfeito para descanso (e festas para turistas nos fins de semana). Depois do frio das montanhas e de poucas horas de sono durante dias, era tudo que eu precisava. Mas com um pouco de tranqüilidade, meu corpo já pedia adrenalina. Fácil conseguir. Uma das atrações do lugar são os passeios de buggy e sandboard – o surf de areia – nas suas imensas dunas.

Fui apresentada ao “piloto” do estranho buggy, dito ser o melhor do lugar. A figura séria, calada e fumando um cigarro atrás do outro é conhecida como “Loco”. Já desconfiei… Loco é quem vai me conduzir velozmente por dunas gigantes?

Enchemos o carro, 8 pessoas de diferentes lugares do mundo. Todos meio amedrontados, era fácil notar. Me colocaram no melhor lugar, foi o que me disse o organizador do passeio, ao lado do Loco. De perto pude vê-lo fazer o sinal da cruz antes de dar a partida. Se ele, que sabia mais que ninguém o que estava fazendo, apelava para a proteção divina, o que eu faria? Loco repetia o gesto a cada nova partida até chegar às dunas.

Disfarca o medo!

Loco  – e nós, seus passageiros – fomos agraciados com a solicitada proteção. E literalmente voamos pelas dunas! O cara é mesmo um louco e dirige loucamente por montes de areia gigantes, sabendo exatamente onde acelerar, onde tirar o pé do pedal e deixar o carro despencar da duna mais alta, ou mesmo acelerar ao máximo pra impulsionar o carro a estar fora do solo por 5 segundos… Mágico! Em algumas paradas bruscas proporcionadas pelo responsável piloto, fizemos sandboard, escorregando aos gritos  e velozmente pelas calmas e infinitas areias peruanas. Surpresa… miragem!

Um mundo de areia

Locos

 

 

 

 

 

 

 

 

No meio do oasis

2.

Um novo amigo, ao saber que sou apaixonada por praia, me disse: “Vá a Asia quando estiver em Lima”. Como confio nos meus amigos, mesmo os novos, obedeci.

Tinha reserva no hotel Aquavit em Asia – indicação do novo amigo – e uma van do hotel foi me buscar em Lima, já que o lugar fica a 90 km da capital peruana. No carro estavam dois DJs e uma cantora, que fariam um show no hotel na noite seguinte. Um dos caras, com dreadlocks até a cintura, se identificou: André Guazzelli, 25 anos, paulista. Chegava do Brasil naquele momento, exclusivamente para tocar no Aquavit, que é famoso por suas grandes festas embaladas por música eletrônica.

Mar de um lado, dunas e deserto do outro. No meio, um boulevard com hotéis, restaurantes, lojas caras, salões de beleza, carrões a venda. Estranho, uma cidade falsa. Destino preferido de férias de verao dos limenhos.

Entramos no hotel. Esfreguei meus olhos. Uma luz laranja e hipnotizante do sol que estava prestes a se por não me deixava enxergar direito. Miragem! Só acreditei que estava nesse lugar lindo quando meus companheiros de van começaram o ensaio. Música eletrônica calma e alegre, da melhor qualidade. E eu, sentada ao lado da piscina, em um confortáveis bangalô, cercada de coqueiros especialmente iluminados e velas, tomando os drinks coloridos que servem nesse agradável hotel.

A miragem

 

No dia seguinte, pouco antes do sol sumir, resolvi caminhar um pouco pela praia. Água e areia prateadas pelo reflexo da luz do sol que, por aqui, graciosamente se põe no mar. Azul, cinza e laranja no céu… o cenário em si já era perfeito para minha mente fotografar as melhores lembranças de Asia. Mas o lugar quis me impressionar ainda mais. Cinco golfinhos se aproximaram da costa. Mais uma vez esfreguei meus olhos, o reflexo prateado podia estar me confundindo. Mas eles estavam bem ali, próximos, saltando, se exibindo, dançando ao som da música eletrônica que ainda tocava na minha mente.

 

Asia no Peru

 

3.

Luzes, muitas luzes. Letreiros enormes, coloridos e iluminados. Cassinos! Edifícios grandes, bonitos e modernos. Restaurantes charmosos, com mesas elegantemente postas. Jazz? Não acredito! Um piano no meio de uma calçada vazia convidava os que passavam a encher a rua com um pouco de música, mesmo que mal tocada. Esfreguei meus olhos uma vez mais. Onde estou? As luzes aumentavam, margeando autopistas. Parques floridos, verdes, perfeitamente limpos e cuidados. Onde está a Lima que imaginava, suja, poluída, perigosa? Miragem!

Luzes em Lima, entre naturais e artificiais

 

 

unBOLIVIAble

2 Mar

Esse não é meu post original, mas como eu costumo dizer: É o que tem para hoje!

Hoje foi meu, nosso, primeiro dia de folga oficial. Estamos em Tupiza na Bolívia e na verdade tiramos o dia para colocar tudo em dia: fitas, arquivos, HDs, e-mails…nos esquecemos só que em se tratando de Bolivia o fator conexão é, se não raro, muito lento!

Mais cedo nos conectamos em uma LAN house pela bagatela de uns 80 centavos a hora…mas como sempre ouvi dizer: tempo é dinheiro. E esse saiu caro! Para abrir um e-mail demorava algo em torno de 5 minutos! Descobrimos então que na praça (acredito que seja a praça principal da cidade) existe internet wifi, e por incrível que pareça é a melhor internet que já encontrei em toda Bolívia! Realmente unBOLIVIAble!

Agora estou aqui, triste por não ter terminado meu post e poder compartilhar com vocês…Na verdade eu terminei ontem a noite, mas quando fui ver hoje de manhã, faltava metade de tudo que escrevi antes de dormir! Mistérios do windows (desculpa, não podemos discutir política aqui!)

Bom, acompanhem os posts da Let e do Zizo para saberem por onde estivemos nos últimos dias. Assim que conseguir reterminar meu post envio!

A primeira classe

28 Fev

Todo mineiro é desconfiado. Essa frase tem grandes chances de estar errada, já que na maioria das vezes as generalizações estão. Mas eu sou desconfiada. Essa afirmação é corretíssima. Seja por ter nascido entre as montanhas de Minas ou por ironia do destino, sou assim. Desde sempre. Pois bem, dentre as coisas que menos me inspiram confiança no mundo estão as empresas aéreas e mais especificamente os serviços de embarque de bagagem dessas tais empresas. E foi isso que me rendeu uma viagem de classe executiva no meu caminho pra casa.

Difícil entender a relação entre uma coisa e outra? Explico. Lá estava eu fazendo check-in no aeroporto de Buenos Aires quando a atendente do guichê me diz que minha mochila seria etiquetada com um baita papel cor-de-rosa no qual se lia em letras enormes “waiting list”. Mas não se preocupe, disse a senhorita, assim que você chegar em Lima (sim, fiz escala no Peru pra depois descer de novo pra São Paulo) e confirmar sua passagem, a mala será automaticamente embarcada. Como assim não me preocupar? Alguém em sã consciência não se preocuparia? Tudo bem que não tinha absolutamente nada de valor material na minha mochila, mas havia uma infinidade de livros, folhetos, cartões e panfletos recolhidos durante toda a viagem – sem os quais seria uma missão muito mais difícil atualizar o guia.

Uma vez em Lima, com a passagem confirmada, fui perguntar se a mala estava embarcada. “Verifique com algum dos comissários de bordo”, respondeu a mocinha do saguão. Já no avião, fui diretamente conversar com o chefe dos comissários, Alberto. Ele, sem entender porque minha passagem precisava de confirmação, perguntou se eu trabalhava na empresa aérea. Respondi que não, mas que minha passagem era uma cortesia. Respondi rapidamente porque estava apreensiva pra saber da minha mochila e o avião iria decolar em poucos minutos – além de desconfiada, sou uma pessoa bem ansiosa. Ele não se deu por satisfeito e perguntou porque eu tinha uma cortesia. Mais uma vez tentei ser breve na resposta e disse apenas que estava trabalhando na atualização de um guia de viagens.

Pronto. A próxima coisa que eu me lembro é de estar sentada naquelas enormes poltronas da classe executiva. A diferença entre meu novo assento e os da classe econômica, que até esse dia eram os únicos que eu conhecia, começava pelo tamanho. Se na classe econômica até eu, que sou bem pequenina, fico apertada, ali até o Michael Jordan ficaria confortável. E depois vem o atendimento. Meu casaco foi parar num cabide à minha frente. A mochila deve ter voado sozinha pro compartimento acima da minha cabeça, porque eu definitivamente não sei como ela chegou até lá.

No lugar da água, ganhei um copo de whisky e a televisão à minha frente era exclusivamente para mim. Ganhei também um curioso kit para minha viagem ser mais confortável. Havia protetor solar para os lábios, meias, protetor de olhos para um sono tranquilo, escova e pasta de dentes, pente de cabelo (imagine só se alguém vai querer sair da classe executiva descabelada…), protetor higiênico para não ter contato direto com os fones de ouvido (estaríamos nós da classe econômica demasiadamente expostos a vírus cruéis sem eles?). Tudo dentro de uma bolsa seca, daquelas que não permite entrada de água (seria uma forma de garantir a integridade do kit no caso de o avião fazer um vôo forçado na água?).

O triste da história é que eu descobri que não nasci pra riqueza. Ao invés de confortável, fiquei extremamente irritada com aquela bajulação toda. Vão servir o almoço e não permitem que você puxe a mesinha – fazem isso por você. A temperatura esfria e não te deixam pegar o seu casaco – jogam um cobertor em cima de você. O sono começa a chegar, você está quase dormindo e eles te acordam ao tentar fechar a janela – não querem que a luz externa te perturbe. Numa boa? Um mimo aqui e ali são bem vindos, mas sem exagero, né? Como sou da filosofia de que experimentar é sempre bom, então a viagem de classe executiva foi muito válida. Mas quando eu ganhar na mega-sena (porque um dia eu ei de jogar e, nesse dia, eu ei de ganhar), vou gastar tudo viajando, mas prefiro dedicar o dinheiro para gastar in loco e não no caminho. Só não vou dispensar o whisky.

Ilha do Sol

28 Fev

Destino imperdível. Entre os céus e as águas, um sonho insular. Azul, verde, pedras e gentes: a Ilha do Sol é um tesouro do Titicaca.

Aymaras da Isla del Sol

Arco-íris no Titicaca

Entrada de Challa, um dos três povoados da Isla del Sol

Burrinhos simpáticos

Ovelhinhas camaradas

Barro, pedra, telhas e palha

Anoitecendo na Isla del Sol: uma mistura de mágica e poesia